quinta-feira, 15 de abril de 2010


O Esposo de nossas Almas
Espiritualidade
15-04-2010


Acabo de rezar pela milionésima vez seu poema “Formosura”. É inevitável lembrar-me do que dizia Pe. Caetano, lá pela década de 70: a graça especial do Novo Pentecostes na Igreja abriu para o leigo comum as portas da oração mística. Na época em que ele pregou sobre isso, lembro-me que fiquei apavorada, por que, para mim, oração mística significava estigmas, sofrimento, doença, humilhação e muito sangue derramado. Depois, aos poucos, fui aprendendo que tratava-se do que hoje chamamos “oração profunda” e, em honra a você, “oração aos moldes de Teresa”. Hoje, mais de vinte e cinco depois da palestra, a gente vai vendo que você, Teresa, tinha razão: pela vida de oração, pela oração profunda, pela oração que é vida, que é conversa contínua de amizade com Deus, a gente vê que Ele, de fato, é a

... formosura que excede toda formosura. A gente vê que não há ninguém no mundo que seja tão “formoso” quanto Deus. Sabe, Teresa, esta palavra hoje está meio esvaziada de sentido, mas, rezando, a gente percebe o que você quis dizer: não há ninguém tão belo, tão verdadeiro, tão pronto para perdoar, tão acolhedor, tão livre, tão feliz, tão aberto, tão sem preconceitos, tão alegre, tão misericordioso, tão, tão ... formoso, quanto Deus. Ele, de fato,

... sem ferir, “faz” dor em toda criatura. Olha, Tê (posso chamá-la assim, não é?), o conceito de “dor” também está meio deturpado e grandemente fora de moda. O homem de hoje foge léguas de toda dor, seja física, psicológica, espiritual... Mas, quando a gente reza, como você recomenda tantas vezes, a gente entende que esta “dor espiritual” é a dor de desejar a Deus sempre mais, de desejar corresponder ao Seu amor, de contemplar sua “formosura” e desejar unir-se a Ele, de contemplar seu ser amor e desejar ser amor com Ele e, por outro lado, não ter como possuí-lo, pois Ele sempre está além, de não ter como unir-se a Ele até quando Ele queira, de desejar ver-nos livres de nossa fraqueza, mas esperar que Ele nos liberte e “sofrer” que Ele nos dê a vitória na luta constante contra nós mesmos para sermos, como Ele, sempre “sim”. Não é de espantar que Ele, a Formosura, “faça dor” em nós, criaturas, que, com “dor-prazer” O desejamos sempre mais desejar e possuir. Para ajudar, como você disse, Ele

... desfaz sem dor o amor das criaturas. Não precisa se preocupar. A gente entende que você está falando em amar qualquer pessoa, coisa, animal, plano, opinião, e, em especial a nós mesmos acima de Deus. A gente sabe o quanto você tinha amigos fiéis e bons e o quanto os amava, mas, como eram bons amigos, levavam-na a amar a Deus acima deles. É bonito ver como você amou a Deus acima de tudo e de todos, acima do que pensavam, do que queriam que você fizesse, do que opinavam sobre seus mosteiros, suas fundações. Você, Teresa, de fato, compreendeu sua missão e amou a Deus acima de tudo e de todos, acima de você mesma, acima dos muitos amigos que você tinha. Seu amor às criaturas era relativo. O absoluto era o amor a Deus. Com certeza, era por causa do

... laço que assim junta duas coisas desiguais. Claro! Com certeza foi a ação do Espírito Santo. É nítido, na sua história, como você se abriu à ação Dele sem reservas e, assim, levando você a amar a Deus acima de tudo e de todos, inclusive e especialmente você mesma, Ele juntou duas coisas desiguais como você e Deus. Sabe, Tê, como você mesmo ensina, isso só é possível pela oração, pela vida de oração. Acho que, daí do céu, você consegue ver muito bem como é difícil a gente rezar, recolher-se, refletir, meditar, hoje em dia. Precisa rezar muito por nós, Tê. Porque, veja bem: sem uma oração que seja amizade sincera com Deus, o Espírito Santo, o Laço, não tem como juntar duas coisas tão desiguais como Deus e nós. Acaba o espírito do mundo, do amor às coisas, ao dinheiro, ao trabalho, a nós mesmos, atraindo e laçando (no mau sentido) a gente, prendendo a gente a si mesmo e, assim, fazendo com que a gente fique cada vez mais longe de Deus. Sem rezar, Tê, não dá, você sabe. E, como você mesma ensina, não há nada que Deus queira mais do que nos ter junto a Ele, e o caminho é a oração. Sei bem que é por isso que você pede que o Espírito Santo que

...não desate o que ata. Por favor, querida Teresa, continua, aí no céu, a fazer esta oração. Pede muito ao Espírito que não desate o que atou com o Novo Pentecostes, com o nosso Batismo no Espírito, com a nossa primeira experiência com Deus, com os nossos compromissos e votos. Precisamos muito, muito mesmo, da sua oração. Não é fácil “manter acesa a chama” no mundo de hoje, diante de tantos apelos e desafios, diante de tantas investidas do inimigo. E, olha, como você sabe, sem oração, não há como manter acesa nenhuma chama de amor a Deus, nem mesmo uma pequenininha. É ilusão, como você mesmo ensina, achar que podemos passar “só um diazinho” sem rezar, sem fazer nossa Lectio Divina, pura ilusão. Para retomar a vida de oração, como você mesma testemunha, é uma batalha intensa. Deixar é fácil, mas voltar, eh, eh! Dá para entender porque você pede ao Espírito que não desate o que ata, é que

... atando, Ele dá força a ter por bem todos os males. Porque, sabe, Teresa, só com a força do Espírito e a chama viva do amor acesa pela oração constante é que a gente vai conseguir ver como vale a pena lutar por Deus, lutar pela radicalidade do Evangelho, lutar pela paz, sofrer perdas por causa de Jesus e da vontade do Pai. Assim, com a ajuda do Espírito que nos ilumina pela oração, a gente vai ver que não é um mal perder o conforto, a vida-boa, o prestígio, a juventude, a beleza, até a saúde por amor a Deus e ao seu Reino. Isso que as pessoas –e, quando está sem rezar, até a gente mesmo- chama de “males” se tornam, claramente, grande bem quando, pela oração, passamos a ver as coisas com os olhos de Deus. Por isso, pede para nós, Tê, o que você pediu para você mesma:

... junta aquela que não é à plenitude acabada. Pede a Deus que a gente viva unido, mas cada vez mais unido, mesmo, a Ele, sendo um com Ele na perfeição do amor, que só vive pela oração. Pela tua intercessão, ensina a gente que este nosso Esposo,

... sem acabar, acaba. Sem ter que amar, ama. Isto é, faz a gente entender que este nosso Amado vai burilando, moldando, esculpindo, acabando em nós sua obra de amor, bem aos pouquinhos, do jeito que a gente agüenta. Ele, que não tem nenhuma obrigação de amar a gente, mesmo assim, ama, pois que Ele só sabe amar e amar com amor gratuito, que é o único amor. Assim, como você bem disse, Ele

... engrandece nosso nada. Isso, Teresa! Você tem razão! Esta Formosura que excede toda formosura vai-nos atraindo, atraindo, atraindo, conquistando, amando, ligando, juntando, desejando, com muita eficácia, nos levar à plenitude do amor, à união consigo. Assim, Ele, que é o Tudo, nos eleva, engrandece nosso nada, fazendo-nos genuinamente felizes, acabando em nós sua obra de amor. Mas tudo isso, querida Teresa, você sabe, é fruto da oração, fruto daquele diálogo de amigo que nos torna semelhantes a quem amamos pela força do Amor desse nosso Amado. Teresa, ensina-nos, por favor, a rezar.



POR: Emmir Nogueira (comunidade shalom)

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