É interessante como o tempo todo estamos em marcha à procura da Paz. Nossa história, nossas escolhas, enfim, toda a nossa vida andam no compasso desta procura. Não precisamos ir muito longe para percebermos que não raras são as vezes que sofremos uma espécie de divisão e guerra interior. Neste sentido, encontramos uma cena no Evangelho de João, que se atento formos aos detalhes nos revela muito deste estado que ora ou outra nos encontramos. Naquele fim de tarde estavam todos reunidos no Cenáculo às portas fechadas pois era grande o temor. Estavam consolados pelas aparições do Bom Mestre que havia ressuscitado, todavia, ainda revelavam uma guerra interior, pois os corações ainda eram visitados pela inquietação e pelo medo. E embora a vocação traduzisse sede de missão e a esperança os saciasse, os últimos acontecimentos, entretanto, lhes deixavam fragmentados e divididos interiormente. Faltava-lhes a paz, a paz de coração. E foi justamente na ausência dela é que Jesus veio e lhes disse: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19b). Aqui entra o cerne da nossa reflexão, que aliás, alguns de nós no início pode ter se perguntado o que a Paz tem em comum com o Pentecostes, o derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja. É que realmente faltava aos discípulos a paz, repito a paz de coração.
Gosto sempre de explorar o universo das palavras, porque acredito que elas nos sugerem uma gama de significados acerca das coisas. E etimologicamente, por exemplo, o significado mais profundo da paz, conhecida também como Shalom, não é ausência de guerra ou violência como acreditamos. Em hebraico a palavra SHALOM, traduzida para nós como paz, significa “estar inteiro”, completo, indiviso. Isso é muito e revelador, porque a partir desta compreensão, concluímos que muitos de nós não estamos em paz, porque não estamos inteiros. Para alcançarmos a paz paz em nossos espaços, em nosso coração, em nossa família em nossa comunidade e vocação, é preciso portanto que cada um esteja inteiro.
Quando Jesus diz “A Paz esteja convosco!”, o Autor Sagrado detalha que a alegria é ressuscitada na vida daqueles discípulos. Eles parecem entender bem o desejo do Bom Mestre traduzido como: “Estejais inteiros! Sejais em tudo inteiros!” É fascinante minha gente trilharmos o caminho da inteireza porque é ela que nos prepara para a missão. “Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 21, 21). Há uma beleza escondida neste versículo, que nos revela que não é possível viver bem aquilo que Deus tem amorosamente nos confiado, se estamos inquietos, sem paz no coração, de algum modo aflitos ou divididos. A regra para viver bem uma vocação seja ela qual for é estar inteiro para ser todo inteiro nela.
Ainda no contexto do Cenáculo encontramos um outro rico detalhe: “Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo”(Jo 21, 22). É na inteireza do nosso coração que Deus derrama o Dom do seu Amor,(Jo 21, 21) nos oferecendo deste modo a condição de vivermos bem aquilo para o qual Ele nos chama.
Quando nos dispomos dos pequenos aos grandes gestos sermos inteiros, este dom que é o próprio Espírito Santo vem em nosso auxílio para perseverarmos e crescermos nesta inteireza tal como os discípulos cresceram após o terem recebido.
Sejamos inteiros, vivamos em paz e Amor em nosso socorro virá!
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Escrito por : Jean Borges